De acordo com os princípios do Edital Rede Nacional, a proposta teve como objetivo organizar uma série de
intervenções urbanas em intercâmbio com quatro (4) coletivos de artistas visuais de quatro Estados (Pará,
Amazônia, Ceará, Piauí).

As ações foram focadas na temática da luta por memória, verdade e justiça da ditadura militar. Aproveitando o ensejo histórico dos 50 anos do golpe militar de 1964 assim como as repercursões do relatório da Comissão Nacional da Verdade a ser publicado em dezembro de 2014 , as ações
do Projeto “Arte Guerrilha Urbana” pretendem, através da transversalidade das linguagens artísticas com aspectos da memória nacional, criar um intecâmbio inter-estadual de artistas afinados com aspectos da arte e política. No sentido de propiciar um diálogo com a educação será produzida uma cartilha sobre arte e política e distribuída para algumas instituições culturais, organizações, museus e galerias.

Justificativa:

Durante a ditadura militar (1964-1985) diversos artistas e coletivos pegaram em “armas criativas” afim de
derrubar um regime que assassinou, desapareceu e torturou milhares de pessoas. A arte naquele período
tomou iniciativa e fez sua hora, basta lembrar de artistas como Carlos Zílio, Artur Barrio, Cildo Meireles,
Paulo Bruscky, Elifas Andreato e os grupos 3Nós3 e Arte/Ação. Uma aproximação entre a resistência
política, ação artística e a vida.

Entretanto, no período que se completa 50 anos do golpe no Brasil, os resquícios de um dos mais longos
regime autoritário da América Latina, infelizmente, ainda estão presentes na nossa realidade : ainda existem
mais de 140 desaparecidos políticos (além de seus familiares não terem o direito sagrado ao enterro de seus
entes, tem que suportar ver os assassinos de seus filhos ou pais ocupando cargos públicos ou desfrutando
confortavelmente de aposentadorias.). Outro fato alarmante se refere aos atuais assassinatos de cerca de 180 militantes, entre 2004 e 2007, por convicções políticas.


Nesse contexto, tem surgido iniciativas da sociedade civil, principalmente da juventude, na luta pelo
consolidação do direito à memória, verdade e justiça. Uma dessas iniciativas é a do coletivo de arte ativista
Aparecidos Políticos que desde 2010 vem realizando intervenções urbanas e performances nessa temática
recebendo inclusive premiações (como a do 65o Salão de Abril e um intercâmbio na Argentina) e uma
condecoração (da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará).Em consonância com os preceitos de um dos mais importantes editais de intercâmbio de artes do Brasil, – o
Rede Nacional Funarte Artes Visuais -, pretendemos, enquanto Coletivo organizador desse projeto, ampliar
essas importantes discussões a respeito da democracia brasileira não só para a classe artística como para o
público em geral.

Nesse sentido, justificamos esse projeto pela necessidade histórica e única de se discutir a
transição de uma ditadura para uma democracia, para finalmente, fecharmos um ciclo tão necessário. O ano
de 2015 experienciará um momento histórico no contexto brasileiro em que se espera que as recomendações
do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, instituição criada para averiguar os crimes da ditadura,
sejam postas em prática. Nesse sentido, urge que as instituições democráticas, inclusive as de arte e cultura, e
a sociedade civil, se mobilizem para consolidar o caminho para a democratização como fizeram países como
Argentina e Chile. O momento é único!

Esse projeto “Arte guerrilha urbana”, ao rememorar e ressignificar ações de arte e política de diversos artistas
visuais da década de 1960, se justifica também pela tentativa de reapropriação e continuação daquela luta de
“artistas do passado”, em que nós “artistas do presente” reivindicamos o fim dos autoritarismos e
arbritariedades – resquícios dos anos de chumbo – no Estado e na sociedade. O caráter experimental de se
pensar uma “arte de guerrilha” em interação com coletivos de diversas regiões brasileiras, se faz no sentido
de tentar convergir iniciativas criativas com as reivindicações de familiares de mortos e desaparecidos
políticos na luta “para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.


Por fim, é acreditando no poder do dissenso da arte, tal como postula o filósofo Jacques Rancière, que iremos
realizar essa série de ações em parceria com coletivos nas ruas das respectivas cidades chegando aos confins
de diversas classes sociais e realidades.

Marabá-PA

Teresina-PI:

Tefé-AM

Fortaleza-CE

Brasília-DF