Dezenas de balões coloridos com imagens de militantes mortos e desaparecidos foram levados aos céus no dia 1º de abril de 2015 em frente ao 23 BC, prostate em Fortaleza

 


Uma revoada de balões coloridos tomou conta dos céus de Fortaleza no dia 1º de abril em frente ao 23 BC, em Fortaleza: uma homenagem aos desaparecidos políticos cearenses, a celebração da memória, pedidos de verdade e justiça. O ato “Ditadura nunca mais – Lembrar para não repetir”, realizado pelo grupo Aparecidos e com apoio de parceiros e amigos de luta, lembrou os 51 anos que marcam o golpe militar, o momento foi de reflexão sobre a atual situação política e a necessidade de lembrar para nunca mais repetir. Cada balão trazia a imagem de um(a) guerrilheiro(a).
A revoada demarca também a resistência. Há um ano, o Coletivo Aparecidos Políticos teve o seu direito de manifestação cerceado através de uma ordem obscura partida da 10 região militar do exército (10 GAC): então foram proibidos de realizar a Performance Operação Carcará, uma “chuva” de pequenos pára-quedas estava programada para cair no 23 BC. A ação não aconteceu, mas repercutiu e, em 2015, enfim, os balões subiram.

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“Ano passado a gente tentou produzir a Performance Operação Carcará que era muito nesse sentido de lançar os pára-quedas, mas a gente foi impedido. E isso coloca muito em evidência as forças dessa estrutura. Na verdade, fica aí uma relação muito injusta de poderes. Mas sempre estamos resistindo, criando existências, agindo enquanto potência de existir. Ver os balões subindo foi muito simbólico, foi um movimento inverso à queda dos pára-quedas. Subir tem uma simbologia incrível e forte, foi muito bonito ver essa dança dos balões no céu. É o peso dessa memória que sobe para ganhar novos ares”, afirma Sabrina Araújo, integrante do Coletivo Aparecidos Políticos.

A ação é uma realização do Coletivo para o projeto “Conexões Cartográficas da Memória”, contemplado no I Edital Público de Intercâmbio e Residência, da Secretária de Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Para Sabrina, a revoada de balões foi muito simbólica, um momento de luta que gerou ali várias inquietações, demarcando para a sociedade a importância da democracia e da resistência desses desaparecidos e mortos políticos da ditadura. “Esses militantes são as ausências da memória do país. Mais uma vez a produção do ato foi no sentido de trazer esses nomes para os espaços públicos e urbanos da cidade. Ocupar as ruas”, relata. Ela reforçou ainda a necessidade de se manter atenta e forte, principalmente nessa atual conjuntura com pedidos de retorno da intervenção militar no Brasil. “Cada vez mais se faz necessário estarmos organizados e na luta”, finaliza.


Resistências

O ato reuniu militantes de diversas organizações, apoiadores e também ex-presos políticos da ditadura. Em uma grande roda em frente ao 23 BC, sobrou emoção a cada subida aos céus dos balões. Durante o ato, era dito o nome de cada desaparecido político enquanto as cores flutuavam. Emocionado, Gemerson Pereira, universitário da URCA e militante da União da Juventude Comunista, contou a importância daquela simbologia. “Foi um ato de resistência, um momento de se pedir justiça. Que esses balões continuem a ser símbolos da nossa luta”, afirma o estudante.

Sérgio Fujiwara, jornalista gráfico e ex-preso político, também esteve presente na manifestação. “Achei o ato muito importante principalmente pela presença de jovens, de pessoas que nem eram nascidos nas manifestações dos anos 70. Fiquei muito feliz de ver essa geração na luta e inquieta com essa conjuntura recente de ameaça à democracia”, afirma.

Comissão da Verdade
Depois de décadas de luta dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos, o Estado brasileiro, pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), reconhece suas responsabilidades e identifica centenas de seus agentes como responsáveis por crimes de lesa humanidade, como tortura, morte e desaparecimento de opositores políticos. Segundo o Coletivo Aparecidos Políticos, agora, mais que nunca, é imperativo a mobilização da sociedade para que se cumpram as recomendações do Relatório da CNV e, principalmente, que se faça justiça.

O ato foi mais uma forma de pressionar para a efetivação das recomendações de um dos mais importantes documentos da história da República contemporânea: o Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade. Recomendações essas que interessam, diretamente, às diversas lutas dos movimentos sociais.

No Relatório Final, o Estado está reconhecendo o que, onde e como se devem aprimorar as instituições, principalmente, as de segurança pública. Só para citar alguns apontamentos, das 29 recomendações do relatório, tem-se: o reconhecimento de culpa pelos crimes da ditadura pelas Forças Armadas; a punição dos agentes públicos; proibição de comemoração do golpe militar; modificação dos currículos das academias militares e policiais; fortalecimento das defensorias públicas; revogação da Lei de Segurança Nacional; desmilitarização das polícias e muitos outros.

Sobre o Coletivo Aparecidos Políticos

Um coletivo surgido em 2010, depois de presenciarmos a chegada dos restos mortais do militante político assassinado, Bergson Gurjão Farias, 37 anos após seu desaparecimento pela Ditadura. Participarmos da cerimônia de velamento do corpo de Bergson e observarmos que nossa cidade, Fortaleza-CE, sabia pouco sobre o fato e, pior, homenageava, com a nomeação de ruas, prédios públicos, mausoléus e até creches aqueles que fizeram desaparecer centenas de opositores do regime militar – diante dessa situação resolvemos criar um coletivo.
A partir de nossa precedente trajetória em militância política, junto ao ambiente de estudo no Curso de Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, tivemos a ideia de atuar no espaço urbano de nossa cidade, com intervenções urbanas, esculachos, grafites, lambe-lambe, rádio livre e outras ações.

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